12 abril 2005

NO RESCALDO DE UM CONGRESSO

1-Emoções fortes .

Como nos velhos tempos, o auditório estava atento, todos estavam no seu lugar, ecoava um profundo silêncio .
Era a hora do adeus de quem tinha sido eleito Presidente há poucos meses, quase por unanimidade, no último Congresso do Partido .
Sanana Lopes estava sereno. As vezes sem conta em que se vira diante de um microfone, faziam com que se sentisse perfeitamente à vontade para o desempenho da sua função. Estava como peixe na água, pronto para mais uma dembulação nas profundezas das sempre revoltas águas do oceano da política .
Com mestria, mas acima de tudo, com esmero e educação, Santana Lopes deu-nos mais uma brilhante lição de como se deve estar na política .
Revelando um arrepiante respeito pelas opiniões e atitudes dos que o atacaram nos últimos tempos, Santana soube responder com elegância, saindo pela porta grande .
Santana recebeu não só a maior, mas também a mais sentida das ovações .
Não eram só as mãos dos militantes que aplaudiam, mas também os corações no adeus a Santana Lopes .
Foi o momento de maior emoção do Congresso .
Mas não foi só emoção, foi também a razão a ditar que assim acontecesse .
Os militantes tinham consciência de quão injustamente Santana Lopes tinha sido criticado desde que foi nomeado Primeiro Ministro .

2. Emoções fracas .

Eram 3 horas da madrugada e ainda alguns militantes subiam ao palco para durante 7 minutos apresentarem as suas moções de estratégia .
Era já escasso o auditório, pelo que se tornava penoso apresentar o produto do seu trabalho naquelas circunstâncias .
Surgiram então as inevitáveis queixas de quem via relegado para plano secundário as suas ideias.
Os oradores da madrugada ainda assim terão esquecido que o Congresso estava a ser transmitido ao vivo no site do PSD através da Internet e que, por conseguinte, o auditório seria incomensuravelmente maior do que aquele que estava à vista .
Há contudo muito a rever quanto à forma como está estruturado o Congresso do PSD.
No próximo Congresso que se prevê seja destinado à revisão dos Estatutos espero dar um significativo contributo nessa matéria .
O desolador cenário da apresentação de múltiplas moções de estratégia de madrugada foi de facto o pormenor de maior desalento de todo o Congresso .
Foi o tempo das emoções fracas .

3- A vitória da razão sobre a emoção .

Forte, forte foi a emoção vivada na bancada onde se concentraram os apoiantes de Filipe Menezes que resolveram cortar a palavra a Silva Peneda quando este declarava o seu apoio a Marques Mendes .
O copo transbordou e o rebanho de repórteres, que andava afanosamente à procura de emoções fortes, encontrou-as, inesperadamente, ali naquela franja marginal do Congresso .
Mendes somou então alguns pontos, graças ao destempero de alguns elementos das bases de apoio de Menezes .
Os dez minutos finais de Marques Mendes foram decisivos . Recuperou aí o terreno que havia perdido nas duas anteriores intervenções .
Filipe Menezes, que fora brilhante no seu discurso de abertura, foi penalizado também pelo aparato com que passou a entrar no recinto do Congresso acompanhado de seguranças e a acenar triunfalmente para a multidão .
Os delegados já não se deixam impressionar com essas manobras .
Foram sobretudo os testemunhos de gratidão dos muitos militantes que subiram ao palco para apoiar Marques Mendes que fizeram pender o fiel para esse lado da balança .
Tinha razão Filipe Menezes quando afirmou que a política sem emoção é uma chatice, mas razão teve também Marques Mendes quando sustentou que deve ser a razão a determinar a acção política .
Desta vez venceu a razão .
Nada me garante porém que da próxima vez não possa triunfar a emoção .
Tudo dependerá dos protagonistas e dos seus projectos de acção política .

Post Scriptum :

Alberto João Jardim é mesmo um caso à parte em que emoção e razão andam de braço dado .
Mais uma vez empolgou o Congresso . A autoridade que lhe advém por ser o mais vitorioso e o mais empreendedor dos social-democratas, paira sempre sobre a cabeça de todos os congressistas .
Ele é aliás o único que não necessita sequer de ser eleito, pois o estatuto de Presidente do Governo Regional da Madeira senta-o ao lado dos vencedores há mais de 3 décadas .
Vamos vê-lo a andar por aí com o Dr. Santana Lopes .
Estarão ambos seguramente muito bem acompanhados .
Estava tentado a dizer que só falto eu para completar o triunvirato .
Mas não posso ter essa pretensão . Sou apenas um « velho » da AD a regressar de uma longa travessia do deserto, ainda um tanto ou quanto desidratado .
Tenho, por isso, que beber ainda uns bons canecos no « Bar Laranja » para poder ganhar de novo o fôlego que fez de mim noutros tempos o mais vitorioso dos candidatos a deputado pela Aliança Dempocrática .
Não esqueço o apoio que recebi dos nossos emigrantes no Círculo Eleitoral da Europa quando das Intercalares de 1979 para as Legislativas de 1980 me deram a maior subida percentual de toda a AD de Sá Carneiro e Amaro da Costa .
Como não esqueço a intervenção da jovem Ana Ferreira de 21 anos, luso-francesa, que protagonizou a intervenção mais vibrante de todo o Congresso ao defender a causa do português emigrante .
Todos ficámos a saber que os portugueses são 15 e não 10 milhões, pois há 5 milhões de portugueses que vivem além fronteiras e que enquanto a Ana Ferreira tiver duas pernas, dois braços e uma bandeira do PSD, ninguém a vai segurar .
Parabéns Ana , com essa garra o teu limite é mesmo o infinito .

Castanheira Barros 12 de Abril de 2005

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