12 dezembro 2008

CARNE PARA CANHÃO

É leviana a atitude do Ministro da Agricultura ao ter afirmado que a situação relativa à carne de porco importada da Irlanda contaminada com dioxinas « está controlada e não há risco para os consumidores » .
É o mesmo tipo de atitude que tem adoptado o Ministro do Ambiente relativamente aos efeitos nocivos das dioxinas resultantes da co-incineração de resíduos industriais perigosos ( RIP’S ) em fornos de cimento, prática que o actual Governo não só tem autorizado como também incentivado .
Com a agravante de, no caso da contaminação da carne de porco, os valores detectados das dioxinas serem 100 vezes superiores ao permitido por lei ( “80 a 200 vezes mais do que o máximo tolerado “, segundo as palavras do próprio Ministro ).
É sabido que as dixonas são nocivas para o ser humano por serem substâncias altamente cancerígenas ao provocar « alteração das células e levar ao aparecimento de doenças do foro oncológico, hormonais, pulmonares e malformações fetais », conforme se reconhece na pág. 37 da sentença proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada em 30.07.2008 no processo 994/06.2BEALM – B .
Desde há mais de 7 anos que luto contra os efeitos nefastos das dioxinas a propósito da co-incineração de resíduos perigosos nas cimenteiras .
A contaminação de carne de porco proveniente da Irlanda é apenas uma das faces do gravíssimo problema resultante da produção de dioxinas que são lançadas para a atmosfera e que chegam ao ser humano através da inalação ou da cadeia alimentar, por exemplo , ao comermos carne de animal contaminado .
As dioxinas formam-se a partir de determinados processos de combustão de produtos com cloro .
Ao contrário da atitude adoptada pelo Ministro da Agricultura português , no próprio País produtor e exportador ( a Irlanda ) e no Reino Unido em geral a reacção ao problema foi a de apelar à devolução da carne adquirida que está a ser entregue em larga escala nos supermercados, a avaliar pelas notícias vindas a público .
Só a subserviência perante o Governo pode explicar que certos sectores da comunicação social continuem a divulgar e a dar como certo tudo quanto é afirmado pelos membros do Governo e pura e simplesmente a omitir o que é desfavorável a esse mesmo Governo .
Assim até o Tatonas conseguia ser Primeiro Ministro em Portugal durante pelo menos 4 anos .
Quando é o próprio Presidente da República a queixar-se de discriminação no tratamento jornalístico dado às suas entrevistas comparativamente com as do 1º Ministro está tudo dito .
Como exemplo disso aponto apenas o singelo facto de o Diário de Notícias ter publicado em dois fins de semana seguidos duas entrevistas , sendo uma ao 1º Ministro e outra à Presidente do PSD .
A do Primeiro Ministro teve direito a 12 páginas em dois números seguidos : sábado e domingo . A da Drª Ferreira Leite foi de 6 páginas apenas num só dia .
Assim é o próprio regime democrático que é posto em causa, sendo os cidadãos deste País tratados como se fossem « carne para canhão » .